leonardo lessa

O DES-LEMBRAR DE LEONARDO LESSA

Por Bernardete Conte – Psicóloga e Mestre em Pintura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, Portugal

Segundo Aristóteles, citado por Panofsky, em Idea: A evolução do conceito de Belo, a forma, antes de penetrar na matéria, reside na alma humana: “É um produto de arte tudo aquilo cuja forma reside na alma humana”. Assim a obra de Leonardo. Toda sua produção é a materialização do que reside em sua alma, dos sentimentos que se seguiram aos acontecimentos de sua vida. E ele produziu esses quadros como uma maneira de superá-los. Esquecer? Pode-se tentar, mas é difícil. Des-lembrar foi o artifício usado. Esse foi esse o caminho escolhido. O prefixo DES é polissêmico, isto é: tem mais de um significado. Tanto indica separação, negação, como indica a reversão de uma trajetória de mudanças. Parece-me que não há palavra mais consistente para indicar o significado destes trabalhos de Leonardo. Assim ele “des-lembra”. Desenhando, pintando, ele expressa suas dores e suas esperanças. Cria um novo caminho. Cria uma mudança no caminho. Através das mãos. Das suas, as mãos físicas usadas para a produzir, e das mãos representadas. Mãos que são os instrumentos do contato e do novo que deverá surgir após esse momento libertador de apresentar sua produção.